Estamos numa época de
incertezas. Diante de mil concepções, idéias e formas milagrosas de ensinar na
escola, nos deparamos com um dilema: o que ensinar nas aulas de Educação
Física?
Estamos numa época de incertezas. Diante de
mil concepções, idéias e formas milagrosas de ensinar na escola, nos deparamos
com um dilema: o que ensinar nas aulas de Educação Física?
O primeiro ponto que não devemos nos esquecer é de que a Educação
Física é uma área
de conhecimento, está inserida no currículo escolar e, portanto, tem um
objetivo pedagógico. Assim, entendendo a Educação Física como
“disciplina”, ela deverá possuir seus próprios objetivos, conteúdos,
expectativas de aprendizagem e seu objetivo deverá ser o de estudar o
universo das manifestações culturais corporais.
Algumas pessoas afirmam que as aulas de Educação Física devem priorizar a diversão e o lazer.
Se a disciplina está inserida no currículo da escola, como citado
anteriormente, não faz sentido essa afirmativa. Existem outros locais onde as
crianças podem freqüentar com o único objetivo de diversão e certamente a
escola não é este espaço. Lembremos que ao afirmar isso estamos negando o
direito da criança a adquirir conhecimento.
Ao escolher uma manifestação corporal presente no cotidiano da comunidade,
para ser estudada nas aulas de Educação Física, estamos garantindo o
respeito ao aluno, respeito a sua cultura, aos seus conhecimentos e uma
aprendizagem significativa que faça sentido para a criança.

A Educação Física deveria
garantir aos alunos o direito de conhecer mais profundamente os esportes, as
danças, as lutas, as ginásticas, enfim, as práticas pertencentes ao universo
corporal presentes em seu cotidiano. Garantir o direito a esses aprendizados é
um dever do professor e da escola, respeitar esses conhecimentos também.
Mas como funciona isso na prática? Como exemplo, cito a tematização de um
esporte como o vôlei. A partir dos conhecimentos dos alunos a respeito desta
manifestação podemos propor algumas atividades onde os alunos experimentem
jogar de varias maneiras, adaptando os movimentos, o espaço, os materiais,
incluindo as pessoas com deficiência. Outra ação didática seria mediar algumas
atividades onde os alunos descubram como o esporte surgiu, quem são os
atletas, onde e por quem é praticado, enfim, a criança deve entender que
essas manifestações são culturalmente construídas e constantemente modificadas
de acordo com alguns interesses.

É importante lembrar que respeitar os conhecimentos dos alunos não significa
que devemos nos limitar a dar somente temas que eles conhecem e vivenciam. Ao
contrario disso, devemos proporcionar momentos onde esses conhecimentos sejam
ampliados, trazendo para a escola tudo o que diz respeito a seu cotidiano e
também outras formas de ver e pensar esses saberes que fazem parte do
patrimônio cultural da sociedade.
A partir dessa perspectiva de educação, saem de cena as aulas “treinamento”,
que exclui os não habilidosos, a descoberta de novos atletas, excluem os
deficientes e outros que não se encaixam nessa pratica e entram em cena todos
aqueles alunos que tem o direito de vivenciar essas manifestações. Isso não
significa que a Educação Física deva se transformar em aulas “ditas” teóricas,
mas sim, a partir das práticas, uma aula onde a satisfação de aprender e
participar estejam presentes através de atividades que levante questionamentos,
aprofunde o conhecimento, re-signifiquem a pratica e ampliem as formas de ver,
pensar e estar no mundo.
Natalia Gonçalves
Professora de Educação Física da PMSP
Revisado por Edgar Zeballos CREF G/ES 004548
ACFISA